A Bíblia relata uma infinidade
de situações usadas por Deus para manifestar Sua vontade e Sua presença. A
conversão de um dos maiores pregadores avivalistas de todos os tempos, o
americano Charles Grandison Finney (1792-1875), não chega a ser
"estarrecedora" se comparada, por exemplo, ao episódio narrado nas
Escrituras, no qual Deus fez falar a mula de Balaão. No entanto, não se pode
dizer que seja "natural" alguém entregar-se a Jesus após a leitura
exaustiva de livros de Direito, contendo citações bíblicas. Foi exatamente
isso que aconteceu com o então advogado Charles Finney.
Finney nasceu em Warren, estado
de Connecticut, no dia 29 de agosto de 1792. Dois anos depois, sua família
foi para a cidade de Hanover, em Nova Iorque. Seus pais não eram convertidos
ao Evangelho, e se criou num lugar onde os membros da igreja conheciam apenas
a formalidade fria dos cultos. Tornou-se um advogado que, ao encontrar nos seus
livros de jurisprudência muitas citações da Bíblia, comprou ume exemplar com
a intenção de conhecer as Escrituras. Em 1821, após ler muitos livros de
Direito, cujas leis eram fundamentadas na Bíblia, ele decidiu conhecer as
Escrituras. Em uma tarde fria, Finney saiu para dar um passeio nos bosques.
Lembrando-se dos exemplos do Livro Sagrado, procurou estar a sós com Deus.
Ajoelhado em oração, Finney entregou-se a Jesus após travar uma batalha
interior: Achei-me tomado por uma fraqueza e não consegui ficar em pé. Tive
vergonha de que alguém me encontrasse ali, de joelhos, e logo em desespero
percebi o que me impedia de entregar meu coração ao Senhor: meu orgulho. Fui
vencido pela convicção do pecado. E me arrependi. Durante todo seu processo
de aprendizado e mais tarde em seu ministério, Finney manteve os princípios
que aprendeu nos anos em que esteve na advocacia. Eis um trecho de sua
biografia:
"Ao ler a Bíblia, ao
assistir às reuniões de oração, e ouvir os sermões do senhor Galé, percebi
que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei impressionado
especialmente com o fato de as orações dos crentes, semana após semana, não
serem respondidas. Li na Bíblia “pedi e dar-se-vos-á”. Li, também, que Deus é
mais pronto a dar o Espírito Santo aos que lho pedirem, do que os pais
terrestres a darem boas coisas aos filhos. Ouvia os crentes pedirem um
derramamento do Espírito Santo e confessarem, depois, que não o receberam.
Exortavam uns aos outros a se despertarem para pedir, em oração, um
derramamento do Espírito de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento
com a conversão de pecadores... Foi num domingo de 1821 que assentei no
coração resolver o problema sobre a salvação da minha alma e ter paz com
Deus. (...) Fui vencido pela convicção do grande pecado de eu envergonhar-me
se alguém me encontrasse de joelhos perante Deus, e bradei em alta voz que
não abandonaria o lugar, nem que todos os homens da terra e todos os demônios
do inferno me cercassem. O pecado parecia-me horrendo, infinito. Fiquei
quebrantado até o pó perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me
iluminou: “ Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei.
E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração”.
A conversão de Finney e o seu
imediato batismo no Espírito Santo, contados em sua biografia, são
impressionantes. O amor a Deus, a fome de sua Palavra, a unção para
testemunhar e anunciar do Evangelho vieram sobre ele no dia de sua entrega a
Jesus. Imediatamente, o advogado perdeu todo o gosto pela sua profissão e
tornou-se um dos mais famosos pregadores do Evangelho. Daquele momento em
diante, tudo em sua vida seria incomum. Conta-se que, após uma de suas
pregações em Governeur, no estado de Nova Iorque, não houve baile ou
representações teatrais por quase seis anos, tamanha a força das palavras
proferidas pelo chamado apóstolo do avivamento. Ao longo de todo seu
ministério pela América, calcula-se que cerca de 500 mil pessoas aceitaram ao
Senhor. Eis o segredo dos grandes pregadores, nas palavras do próprio Finney:
"Os meios empregados eram
simplesmente pregação, cultos de oração, muita oração em secreto, intensivo
evangelismo pessoal e cultos para a instrução dos interessados. Eu tinha o
costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem
cessar. Achei, também, grande proveito em observar frequentemente dias
inteiros de jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho
com Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro do templo".
Ele queria entender a
profundidade dos problemas da humanidade, usar sua fantástica oratória para
falar de Jesus e estudar a Bíblia com uma visão racional e prática. Por causa
disso, Finney teve dificuldades para compreender por que as bênçãos não
chegavam ao povo de Deus: "Ao ler a Bíblia, ao assistir as reuniões de
oração, e ouvir os sermões do pregador, percebi que não me achava pronto a
entrar nos céus. Fiquei impressionado especialmente com o ato das orações dos
cristãos, semana após semana, não serem respondidas. Li na Bíblia: Pedi e
dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Li também, que
Deus está mais pronto a dar o Espírito Santo aos que Lho pedirem, do que os
pais terrestres a darem boas coisas aos filhos. Mas, ao ler mais a Bíblia, vi
que as orações dos cristãos não eram respondidas porque não tinham fé, isto
é, não esperavam que Deus lhes desse o que pediram. Entretanto, com isso
senti um alívio a cerca da veracidade do Evangelho", contou ele anos
mais tarde em sua autobiografia.
Em 1823, Finney se tornou
ministro do Evangelho, na cidade de Saint Lawrence, e iniciou, no ano
seguinte, o processo conhecido nos livros de história como "o fogo dos
nove anos", entre 1824 e 1832. Naquele período, ele administrou reuniões
de reavivamento ao longo das chamadas cidades orientais: Gouverneur, Roma,
Utica, Ruivo, Troy, Wilmington, Filadélfia, Boston e Nova Iorque. Durante as
reuniões, advogados, médicos e homens de negócios se arrependiam de seus
pecados e se entregavam a Jesus com lágrimas. Em Rochester, diz-se que o
lugar foi estremecido até as suas fundações, e cerca de 1.200 pessoas
converteram-se a Cristo. Boa parte delas tornou-se membro da Igreja daquela
cidade. Finney abriu o caminho para evangelistas de massa como Dwight L.
Moody, Billy Sunday, entre outros.
Descobriu-se que mais de 85
pessoas de cada 100 que se convertiam sob a pregação de Finney permaneciam
fiéis a Deus; enquanto 75 pessoas de cada cem, das que professaram conversão
nos cultos de algum dos maiores pregadores, se desviavam. Parece que Finney
tinha o poder de impressionar a consciência dos homens sobre a necessidade de
um viver santo, de tal maneira que produzia fruto mais permanente.
Finney ficou viúvo duas vezes e
teve três esposas. Casou-se com Lydia Raiz Andrews, com quem teve seis filhos.
Ela morreu em 1847. Depois, casou-se com Elizabeth Ford Atkinson, que também
faleceu e, por último, Rebecca Allen Rayl. As três compartilharam do trabalho
de reavivamento, acompanhando-o nas viagens e nos ministérios paralelos.
Em 1832 Finney começou a
pastorear uma igreja em Nova Iorque, ao mesmo tempo em que era evangelista em
cidades mais distantes. Três anos depois, um comerciante de seda, rico e
benfeitor, Arthur Tappan, ofereceu apoio financeiro ao recém fundado
Instituto Colegial Oberlin naquela cidade, desde que Finney fosse convidado a
montar um departamento teológico. Por influência do abolicionista Theodore
Dwight Solda, o pregador aceitou o convite, mas com duas exigências: a de
continuar pregando a Palavra de Deus em Nova Iorque e a de que a escola
admitisse negros. Assim foi feito.
Mais tarde, o colégio passou a
chamar-se Seminário Teológico Oberlin. Naquele estabelecimento, Finney foi
professor de teologia sistemática e teologia pastoral. Durante os 40 anos em
que atuou como evangelista, escreveu 17 livros, quatro deles impressos ate
hoje. O mais significativo deles foi, sem dúvida, Teologia Sistemática,
considerado por muitos a maior obra sobre Teologia então escrita. Vítima de
um problema cardíaco, o professor e apóstolo apaixonado por Jesus faleceu em
1875.
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