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domingo, 9 de dezembro de 2012

O ASPECTO PECULIAR DA VIDA DA IGREJA (1)


         


   Leitura Bíblica: Efésios 4:13-16; Gálatas:23; 2 Timóteo 4:7; 1 Timóteo 6:12; Judas 3, 24;Atos 6:7; 13:8; 14:22; Gálatas 3:25; 6:10; 1 Timóteo 1:19; 3:9; 4:1, 6; 5:8; 6:10, 21; 2 Timóteo 3:8; Tito 1:13; Apocalipse 14:12  

 
Neste livro tenho o encargo de abordar o aspecto peculiar, geral e prático da vida da igreja. Neste capítulo,  começarei  abordando  o  aspecto  peculiar.  Todos  devem  conhecer  o  que  há  de  tão especial na vida da igreja.  


A FÉ   

A peculiaridade da vida da igreja é a fé. No Novo Testamento, a palavra "fé" é utilizada com dois significados. Primeiro, ela significa a ação de crer (Romanos 5:1; Efésios 2:8; Hebreus 11:1). Temos fé no Senhor  Jesus, e isso é a ação de crer. Esse é o significado subjetivo da palavra fé. Há também o segundo  
significado,  isto  é,  o  significado  objetivo  da  palavra  fé.  Fé,  usada  desta  maneira,  refere-se  às coisas nas quais cremos, o objetivo da nossa fé, nossa crença (Tito 1:4; Apocalipses 14:12; 2 Timóteo 4:7). Assim,  quando  dizemos  que  a  peculiaridade  da  vida  da  igreja  é  a  fé,  referimo-nos  ao  objeto  da  nossa crença. É o que chamamos nossa fé cristã. Como cristãos, temos uma fé única.   

Paulo disse que combateu o bom combate e guardou a fé (2 Timóteo 4:7) e também exortou Timóteo a combater o bom combate da fé (1 Timóteo 6:12). Judas nos disse que devemos contender por a fé uma vez entregue aos santos (Judas 3). A fé mencionada nesses versículos não significa a nossa ação de  crer,  mas  refere-se  às  coisas  nas  quais  cremos  para  a  nossa  salvação.  Todos  os  versículos citados  no  princípio  deste  capítulo  estão  relacionados  com  isso.  Assim,  a  fé  é  algo  único, específico,  peculiar.  Por  isso,  na  vida  da  igreja  temos  somente  uma  coisa  que  é  específica  ou  peculiar. A fé,  a nossa fé cristã, composta das crenças a respeito da Bíblia, Deus, Cristo, a obra de Cristo, a salvação e a igreja.   


Com Respeito à Bíblia   

A  Bíblia  é  a  Palavra  de  Deus.  Nós  cremos  que  a  Bíblia,  palavra  por  palavra,  é  divinamente inspirada  por  Deus  (2  Pedro  1:21),  como  o  Seu  sopro  (2  Timóteo  3:16).  Os  cristãos  genuínos  não  têm qualquer dúvida a respeito desse tópico. Devemos crer que a Bíblia é a Palavra infalível de Deus.  

   

Com Respeito a Deus   

Deus é unicamente um, mas Triúno: o Pai, o Filho e o Espírito (Mateus 3:16-17; 28:19; 2 Coríntios 13:13; Efésios  2:18;    3:14-16;      Apocalipse    1:4-5).    A    Deidade      é   distintamente        três,   mas     não    são    três   Deuses, separadamente. No Antigo e no Novo Testamento, a Bíblia nos diz definitivamente que Deus é um (Deuteronômio 4:35, 39; Salmos 86:10; 1 Coríntios 8:4; 1 Timóteo 2:5). Entre os cristãos, havia alguns que criam que o Pai  
era uma Pessoa, que o Filho era outra Pessoa, mas o Espírito era apenas um poder. Outros creem que os Três da Deidade - o Pai, o Filho, e o Espírito - são três Deuses separados. Esses conceitos,  
rigorosamente falando, são heréticos. Todos têm de crer que, de acordo com a revelação divina da Palavra Santa, nosso Deus é unicamente um.   

  Nós  temos  somente  um  único  Deus,  que  é  Triúno.  Ainda  assim,  somos  incapazes  de  defini-Lo  totalmente porque o nosso raciocínio é muito limitado. Na verdade, não podemos nem mesmo  
definir a nós mesmos muito bem. Sabemos que temos espírito, alma, coração etc., mas é difícil defini-los. Como, então, poderíamos definir o Deus Triúno tão completamente? Só podemos crer no que está claramente revelado na Palavra Santa, isto é: Deus é um, mas também Triúno. Esse é o segundo item da nossa fé cristã.   

                         

Com Respeito a Cristo   

Cristo era o próprio Deus na eternidade (Jo1:1) e tornou-se um homem no tempo (Jo  1:14). Sua Deidade é completa e Sua humanidade é perfeita. Assim, Ele é ambos: Deus e Homem (Jo  20:28; Rm 9:5; Jo 19:5; 1 Tm 2:5), possuindo tanto a divindade como a humanidade.   

Como um homem, Ele foi ungido por Deus com Espírito (Mt 3:16; Jo 1:32-33; Lc 4:18-19) para levar a cabo o propósito eterno de Deus. Por isso, Ele é o Cristo, o Ungido (Mt 16:16; Jo 20:31).   

Ele é o Filho de Deus (Jo   20:31), o qual é a imagem de Deus (Cl 1:15), o resplendor da glória de Deus  e  a  imagem  expressa  da  Sua  substância  (Hb  1:3),  subsistindo  na  forma  de  Deus  e  sendo igual a Deus (Fp 2:6; Jo 5:18); toda a plenitude da divindade habita corporalmente Nele (Cl 2:9). Assim, Ele é o próprio Deus (Hb 1:8).   

  Como Filho de Deus, Ele veio em carne com (gr. pará:  de com) o Pai (Jo  6:46) e no nome do Pai (Jo   5:43); por isso Ele é chamado de Pai (ls 9:6). Ele estava com Deus e era Deus na eternidade  
passada  (Jo   1:1-2),  não  apenas  coexistindo,  mas  sendo  também  coinerente  com  o  Pai  o  tempo todo (Jo  14:10a, 11a; 17:21). Mesmo enquanto Ele estava em carne, na terra, o Pai estava com Ele (Jo  16:32). Por isso, Ele e o Pai eram um (Jo 10:30), trabalhando em nome do Pai e com o Pai (Jo10:25;  14:10b),  fazendo  a  vontade  do  Pai  (Jo  6:38;  5:30),  falando  a  palavra  do  Pai  (Jo  3:34a;14:24), buscando a glória do Pai (Jo 7:18) e expressando o Pai (Jo 14:7-9).   

  Como o Deus eterno, Ele é o Criador de todas as coisas (Hb 1:10; Jo 1:3; Cl 1:16) e, como homem que  veio  em  carne  (1  Jo  4:2)  com  sangue  e  carne  físicos  (Hb  2:14),  Ele  é  uma  criatura,  o  
Primogênito de toda a criação (Cl 1:15b). Por isso, Ele é tanto Criador como criatura.   

  Como Aquele que envia e que dá o Espírito (Jo 15:26; 16:7; 3:34b), a quem o Pai enviou em Seu nome (no do Filho - Jo 14:26), o filho sendo o último Adão na carne, tornou-se o Espírito que dá  
vida, mediante a morte e ressurreição (1Co 15:45b; Jo 14:16-20), o qual recebeu tudo o que é do Filho (Jo 16:14-15) para testificar a respeito do Filho e glorificar o Filho (Jo 15:26; 16:14), sendo  
o sopro do Filho (Jo 20:22). Por isso, Ele é também o Espírito (2 Co 3:17) para residir coexistente e coinerentemente com o Filho e o Pai naqueles que creem (Jo 14:17,23; Rm 8:9-11), a fim de ser  
o Deus Triúno que é Espírito (Jo 4:24) mesclado com os que creem, como um só espírito (1 Co 6:17) no espírito deles (Rm 8:16; 2 Tm 4:22). Por fim, Ele se tornou os sete Espíritos de Deus (Ap 1:4; 4:5), que são os sete olhos do Filho, o Cordeiro (Ap 5:6).   

  Como Deus que se fez homem, Ele é o nosso Salvador  (Lc 2:11; Jo 4:42) chamado Jesus - Jeová, nosso  Salvador,  nossa  Salvação  (Mt  1:21).  Como  o  Cordeiro  de  Deus,  morto  na  cruz  e  que  
derramou o Seu sangue físico pelo nosso pecado e por nossos pecados, Ele é o nosso Redentor (Jo 1:29; 1 Pe 2:24; Hb 9:26, 28; 1 Pe 1:18-19). Como o Cristo ascendido, Ele é o Senhor de todos  
(At  2:36;  10:36),  Cabeça  de  todas  as  coisas  (Ef  1:22),  Cabeça  da  igreja  (Cl  1:18)  e  Senhor  dos senhores e Rei dos reis (Ap 19:16).  

 Em  ressurreição,  Ele  é  a  nossa  vida  (Cl  3:4),  Aquele  que  vive  em  nós  (Gl  2:20)  e  o  poder  e sabedoria  de  Deus  para  nós,  para  ser  a  nossa  justiça,  santificação  e  redenção  (1  Co  1:24,30).Assim, Nele todos os atributos de Deus tornam-se nossas virtudes, e Ele é o conteúdo, o tudo em todos, do novo homem (Cl 3:11). Assim, vemos que Cristo é tudo: Deus, homem, o Criador, a criatura, o Pai, o Filho, o Espírito, o Salvador, o Redentor, Senhor, Cabeça de todos, Cabeça da igreja, o Senhor dos senhores e Rei dos  
reis. Como tal, Ele é a nossa vida, justiça, santificação, redenção e tudo em todos. Louvado seja Ele!   


Com respeito à Obra de Cristo   

Cristo, primeiro, tornou-se um homem na encarnação  (Jo 1:14) e morreu na cruz para a nossa redenção (1 Pe 2:24; Ap 5:9). Depois, Ele ressuscitou dos mortos para nossa regeneração (1 Pe 1:3), ascendeu aos céus para ser o Senhor de todos (At 2:33, 36; 10:36) e voltará como o Noivo para  a  igreja  (Jo  3:29;  Ap  19:7)  e  Rei  dos  reis  para  todas  as  nações  (Ap  19:16).  Esses  são  os principais  aspectos  da  obra  de  Cristo.  Esses  aspectos  incluem  Sua  encarnação,  crucificação, ressurreição,  ascensão  e  volta.  Nenhum  cristão  genuíno  tem  qualquer  argumentação  contra  
esses aspectos da obra de Cristo.   

Com respeito à Nossa Salvação   

Um  pecador  deve  arrepender-se  para  com  Deus  (At  2:38;  26:20)  e  crer  em  Cristo  (Jo  3:16;  At 16:31)  para  obter  perdão  dos  pecados  (At  10:43),  para  redenção  (Rm  3:24),  justificação  (At 13:39)  e  regeneração  (Jo  3:6),  a  fim  de  ter  a  vida  eterna  (Jo  3:36),  tornar-se  filho  de  Deus  (Jo1:12) e membro de Cristo (1 Co 12:27). Essa é a nossa salvação por Deus, por meio da fé (Ef 2:4- 9).   

 
Com respeito à Igreja   

A igreja, composta de todos os genuínos crentes em  Cristo, como o Corpo de Cristo (Ef 1:22-23; Cl 1:24), é universalmente uma só (Ef 4:4); e a igreja numa cidade, como a expressão do Corpo de Cristo, é localmente uma - uma cidade, uma igreja (Ap 1:11).   


A PECULIARIDADE DA VIDA DA IGREJA   

Esses são os seis itens principais da fé cristã adequada. Todos os verdadeiros cristãos não têm qualquer controvérsia  acerca desses itens. Alguns podem  discordar  do item "uma cidade, uma igreja", mas, como cristãos corretos, devemos crer  que a igreja é uma só tanto universalmente como em cada cidade. Como o Corpo de Cristo, a igreja é universalmente uma; como a expressão do  Corpo  de  Cristo,  a  igreja  é  uma  em  cada  cidade.  Isto  não  quer  dizer,  entretanto,  que  um verdadeiro crente em Cristo que não concorda com "uma cidade, uma igreja" não seja salvo. Ele  
ainda é salvo, porém algo está faltando, não para a salvação, mas para a vida adequada da igreja.   

  A fé é a peculiaridade da vida da igreja. Isso é algo muito específico, muito peculiar. Com respeito a esses tópicos da nossa fé cristã, não deve haver discussão. Se formos lutar por algo, teremos de lutar por isso. Não há necessidade de lutar por outras coisas. Temos de combater o bom combate de tal fé (1 Tm 6:12). Temos de contender por tal fé (Jd 3). Temos de ensinar e pregar tal fé.   



OS VENTOS DE DOUTRINA   

Quando Paulo, então chamado Saulo, perseguia a igreja, ele tentava destruir essa fé. Entretanto, o Senhor o capturou e ele, então, tornou-se pregador da fé que antes destruía (Gl 1:23). Nossa luta  
deve ser por essa fé. Temos de diferenciar essa fé de outros tipos de doutrina. Efésios 4:13 diz: "Até que todos cheguemos à unidade da fé" e, então, no versículo 14, encontramos os ventos de doutrina.  Nesses  dois  versículos  há  fé  e  há  doutrina.  Guardar  o  sábado  e  a  circuncisão  são doutrinas. Ensinamentos sobre o véu é um tipo de doutrina; lavar os pés é outro; aspersão ou imersão é outro. Há também o comer e beber de Cristo, o orar-ler, o falar em línguas e a cura divina,   assim   como   outros   tipos   de   doutrinas   e  práticas.   Não   devemos   pensar   que   essas doutrinas ou práticas estão incluídas na peculiaridade da vida da igreja.   

  A que horas devemos ter a mesa do Senhor: pela manhã ou à noite? Isso é outro tipo de doutrina. Quantas  vezes  devemos  ter  a  mesa  do  Senhor:  uma  vez  por  semana  ou  todos  os  dias?  Isso  
também é um tipo de doutrina. Devemos usar pão levedado ou pão sem fermento? Isso é outro tipo de doutrina. Quando uma pessoa ora, deve fechar os olhos ou levantá-los para o céu? Isso é  
também um tipo de doutrina. Tudo isso são doutrinas e dão margem a discussões.   

  DIVIDIDOS POR DOUTRINAS   

Nos últimos cinco séculos, desde a época de Martinho Lutero e da Reforma, os cristãos têm sido divididos  por  todo  tipo  de  doutrinas.  As  divisões  são  resultantes,  quase  que  totalmente,  da ênfase exagerada às doutrinas. John Nelson Darby, por exemplo, tomou a iniciativa em dizer que todos    os   dons miraculosos ou   sobrenaturais,dispensacionalmente tiveram fim, mas os pentecostais e carismáticos de hoje creem que esses dons ainda permanecem. Mesmo entre eles há  crenças  diferentes.  Uns  dizem  que  uma  pessoa  pode  ser  regenerada,  mas  jamais  pode  ser batizada no Espírito Santo sem falar em línguas.   

  Outros dizem até que uma pessoa não pode ser regenerada sem falar em línguas. Sobre a questão da cura divina, há várias escolas de opinião. Alguns, como George Müller, creem na cura divina, não segundo os dons, mas segundo a graça. Em sua autobiografia, ele nos diz que era muito fraco quando jovem, entretanto, viveu noventa e três anos. Ele experimentou a cura do Senhor pela graça, mas os carismáticos ou pentecostais dizem que a cura é pelos dons.   

Até mesmo a questão de em que nome batizar as pessoas tem escolas de opinião. Alguns dizem que devemos batizar as pessoas no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; outros dizem que é  
em nome do Senhor Jesus Cristo.Com respeito ao arrebatamento, há diversas escolas de ensinamento, tais como o arrebatamento  pré-tribulação, pós-tribulação e arrebatamento parcial. Isso são doutrinas; nenhuma delas é um item da fé.   

  Tem  existido  ensinamentos  e  mais  ensinamentos  e  todos  os  cristãos  foram  divididos  pelas diferentes doutrinas e ainda o são. Entre os Irmãos Unidos, hoje, há centenas de divisões. Eles começaram a partir de 1828 ou 1829 e, por volta de 1919, segundo um relato que lemos naquela época, as estatísticas mostravam que, naqueles noventa anos, os Irmãos Unidos foram divididos  
em cento e cinqüenta divisões, principalmente por causa de tantos ensinamentos diferentes.   

IMPORTAR-SE APENAS COM A FÉ   

Todos os cristãos são iguais na fé, mas podemos ser muitíssimo diferentes nas doutrinas. Você crê que todos seremos iguais nas doutrinas? Quando isso ocorrerá? Dificilmente posso acreditar que dois de nós venham a ser algum dia absolutamente iguais em  doutrina.  Então,  que  devemos  enfatizar?  Devemos  enfatizar  as  doutrinas?  Nesse  caso,  tornar-nos-emos facciosos e, por fim, seremos divididos.   

  Não devemos enfatizar as doutrinas, mas somente a nossa fé cristã. Podemos enfatizá-la porque contra ela não há argumento. Na fé não temos problemas. Somos todos iguais.   

  A NECESSIDADE DE CRESCER   

Entretanto, todos fomos infectados, influenciados, estragados, distraídos e até divididos por todo tipo  de  doutrina.  Portanto,  precisamos  crescer  e,  à  medida  que  crescermos,  chegaremos  à  
unidade  da  fé  (Ef  4:  13).  Quanto  mais  crescemos,  menos  enfatizamos  as  doutrinas.  Todas  as doutrinas são como brinquedos. Quanto mais infantis formos, mais gostaremos de brincar com os  brinquedos  da  doutrina.  Um  varão  crescido,  principalmente  um  avô,  não  tem  interesse  em brinquedos.  Quanto  mais  maduros  somos,  menos  brinquedos  temos.  Assim,  todos  precisamos  crescer, até que cheguemos à unidade única da fé.   

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