Leitura Bíblica: Efésios 4:13-16; Gálatas:23; 2 Timóteo 4:7; 1 Timóteo 6:12; Judas 3, 24;Atos 6:7; 13:8; 14:22; Gálatas 3:25; 6:10; 1 Timóteo 1:19; 3:9; 4:1, 6; 5:8; 6:10, 21; 2 Timóteo 3:8; Tito 1:13; Apocalipse 14:12
Neste livro tenho o encargo de abordar o aspecto peculiar, geral e prático da vida da igreja. Neste capítulo, começarei abordando o aspecto peculiar. Todos devem conhecer o que há de tão especial na vida da igreja.
A FÉ
A peculiaridade da vida da igreja é a fé. No Novo Testamento, a palavra "fé" é utilizada com dois significados. Primeiro, ela significa a ação de crer (Romanos 5:1; Efésios 2:8; Hebreus 11:1). Temos fé no Senhor Jesus, e isso é a ação de crer. Esse é o significado subjetivo da palavra fé. Há também o segundo
significado, isto é, o significado objetivo da palavra fé. Fé, usada desta maneira, refere-se às coisas nas quais cremos, o objetivo da nossa fé, nossa crença (Tito 1:4; Apocalipses 14:12; 2 Timóteo 4:7). Assim, quando dizemos que a peculiaridade da vida da igreja é a fé, referimo-nos ao objeto da nossa crença. É o que chamamos nossa fé cristã. Como cristãos, temos uma fé única.
Paulo disse que combateu o bom combate e guardou a fé (2 Timóteo 4:7) e também exortou Timóteo a combater o bom combate da fé (1 Timóteo 6:12). Judas nos disse que devemos contender por a fé uma vez entregue aos santos (Judas 3). A fé mencionada nesses versículos não significa a nossa ação de crer, mas refere-se às coisas nas quais cremos para a nossa salvação. Todos os versículos citados no princípio deste capítulo estão relacionados com isso. Assim, a fé é algo único, específico, peculiar. Por isso, na vida da igreja temos somente uma coisa que é específica ou peculiar. A fé, a nossa fé cristã, composta das crenças a respeito da Bíblia, Deus, Cristo, a obra de Cristo, a salvação e a igreja.
Com Respeito à Bíblia
A Bíblia é a Palavra de Deus. Nós cremos que a Bíblia, palavra por palavra, é divinamente inspirada por Deus (2 Pedro 1:21), como o Seu sopro (2 Timóteo 3:16). Os cristãos genuínos não têm qualquer dúvida a respeito desse tópico. Devemos crer que a Bíblia é a Palavra infalível de Deus.
Com Respeito a Deus
Deus é unicamente um, mas Triúno: o Pai, o Filho e o Espírito (Mateus 3:16-17; 28:19; 2 Coríntios 13:13; Efésios 2:18; 3:14-16; Apocalipse 1:4-5). A Deidade é distintamente três, mas não são três Deuses, separadamente. No Antigo e no Novo Testamento, a Bíblia nos diz definitivamente que Deus é um (Deuteronômio 4:35, 39; Salmos 86:10; 1 Coríntios 8:4; 1 Timóteo 2:5). Entre os cristãos, havia alguns que criam que o Pai
era uma Pessoa, que o Filho era outra Pessoa, mas o Espírito era apenas um poder. Outros creem que os Três da Deidade - o Pai, o Filho, e o Espírito - são três Deuses separados. Esses conceitos,
rigorosamente falando, são heréticos. Todos têm de crer que, de acordo com a revelação divina da Palavra Santa, nosso Deus é unicamente um.
Nós temos somente um único Deus, que é Triúno. Ainda assim, somos incapazes de defini-Lo totalmente porque o nosso raciocínio é muito limitado. Na verdade, não podemos nem mesmo
definir a nós mesmos muito bem. Sabemos que temos espírito, alma, coração etc., mas é difícil defini-los. Como, então, poderíamos definir o Deus Triúno tão completamente? Só podemos crer no que está claramente revelado na Palavra Santa, isto é: Deus é um, mas também Triúno. Esse é o segundo item da nossa fé cristã.
Com Respeito a Cristo
Cristo era o próprio Deus na eternidade (Jo1:1) e tornou-se um homem no tempo (Jo 1:14). Sua Deidade é completa e Sua humanidade é perfeita. Assim, Ele é ambos: Deus e Homem (Jo 20:28; Rm 9:5; Jo 19:5; 1 Tm 2:5), possuindo tanto a divindade como a humanidade.
Como um homem, Ele foi ungido por Deus com Espírito (Mt 3:16; Jo 1:32-33; Lc 4:18-19) para levar a cabo o propósito eterno de Deus. Por isso, Ele é o Cristo, o Ungido (Mt 16:16; Jo 20:31).
Ele é o Filho de Deus (Jo 20:31), o qual é a imagem de Deus (Cl 1:15), o resplendor da glória de Deus e a imagem expressa da Sua substância (Hb 1:3), subsistindo na forma de Deus e sendo igual a Deus (Fp 2:6; Jo 5:18); toda a plenitude da divindade habita corporalmente Nele (Cl 2:9). Assim, Ele é o próprio Deus (Hb 1:8).
Como Filho de Deus, Ele veio em carne com (gr. pará: de com) o Pai (Jo 6:46) e no nome do Pai (Jo 5:43); por isso Ele é chamado de Pai (ls 9:6). Ele estava com Deus e era Deus na eternidade
passada (Jo 1:1-2), não apenas coexistindo, mas sendo também coinerente com o Pai o tempo todo (Jo 14:10a, 11a; 17:21). Mesmo enquanto Ele estava em carne, na terra, o Pai estava com Ele (Jo 16:32). Por isso, Ele e o Pai eram um (Jo 10:30), trabalhando em nome do Pai e com o Pai (Jo10:25; 14:10b), fazendo a vontade do Pai (Jo 6:38; 5:30), falando a palavra do Pai (Jo 3:34a;14:24), buscando a glória do Pai (Jo 7:18) e expressando o Pai (Jo 14:7-9).
Como o Deus eterno, Ele é o Criador de todas as coisas (Hb 1:10; Jo 1:3; Cl 1:16) e, como homem que veio em carne (1 Jo 4:2) com sangue e carne físicos (Hb 2:14), Ele é uma criatura, o
Primogênito de toda a criação (Cl 1:15b). Por isso, Ele é tanto Criador como criatura.
Como Aquele que envia e que dá o Espírito (Jo 15:26; 16:7; 3:34b), a quem o Pai enviou em Seu nome (no do Filho - Jo 14:26), o filho sendo o último Adão na carne, tornou-se o Espírito que dá
vida, mediante a morte e ressurreição (1Co 15:45b; Jo 14:16-20), o qual recebeu tudo o que é do Filho (Jo 16:14-15) para testificar a respeito do Filho e glorificar o Filho (Jo 15:26; 16:14), sendo
o sopro do Filho (Jo 20:22). Por isso, Ele é também o Espírito (2 Co 3:17) para residir coexistente e coinerentemente com o Filho e o Pai naqueles que creem (Jo 14:17,23; Rm 8:9-11), a fim de ser
o Deus Triúno que é Espírito (Jo 4:24) mesclado com os que creem, como um só espírito (1 Co 6:17) no espírito deles (Rm 8:16; 2 Tm 4:22). Por fim, Ele se tornou os sete Espíritos de Deus (Ap 1:4; 4:5), que são os sete olhos do Filho, o Cordeiro (Ap 5:6).
Como Deus que se fez homem, Ele é o nosso Salvador (Lc 2:11; Jo 4:42) chamado Jesus - Jeová, nosso Salvador, nossa Salvação (Mt 1:21). Como o Cordeiro de Deus, morto na cruz e que
derramou o Seu sangue físico pelo nosso pecado e por nossos pecados, Ele é o nosso Redentor (Jo 1:29; 1 Pe 2:24; Hb 9:26, 28; 1 Pe 1:18-19). Como o Cristo ascendido, Ele é o Senhor de todos
(At 2:36; 10:36), Cabeça de todas as coisas (Ef 1:22), Cabeça da igreja (Cl 1:18) e Senhor dos senhores e Rei dos reis (Ap 19:16).
Em ressurreição, Ele é a nossa vida (Cl 3:4), Aquele que vive em nós (Gl 2:20) e o poder e sabedoria de Deus para nós, para ser a nossa justiça, santificação e redenção (1 Co 1:24,30).Assim, Nele todos os atributos de Deus tornam-se nossas virtudes, e Ele é o conteúdo, o tudo em todos, do novo homem (Cl 3:11). Assim, vemos que Cristo é tudo: Deus, homem, o Criador, a criatura, o Pai, o Filho, o Espírito, o Salvador, o Redentor, Senhor, Cabeça de todos, Cabeça da igreja, o Senhor dos senhores e Rei dos
reis. Como tal, Ele é a nossa vida, justiça, santificação, redenção e tudo em todos. Louvado seja Ele!
Com respeito à Obra de Cristo
Cristo, primeiro, tornou-se um homem na encarnação (Jo 1:14) e morreu na cruz para a nossa redenção (1 Pe 2:24; Ap 5:9). Depois, Ele ressuscitou dos mortos para nossa regeneração (1 Pe 1:3), ascendeu aos céus para ser o Senhor de todos (At 2:33, 36; 10:36) e voltará como o Noivo para a igreja (Jo 3:29; Ap 19:7) e Rei dos reis para todas as nações (Ap 19:16). Esses são os principais aspectos da obra de Cristo. Esses aspectos incluem Sua encarnação, crucificação, ressurreição, ascensão e volta. Nenhum cristão genuíno tem qualquer argumentação contra
esses aspectos da obra de Cristo.
Com respeito à Nossa Salvação
Um pecador deve arrepender-se para com Deus (At 2:38; 26:20) e crer em Cristo (Jo 3:16; At 16:31) para obter perdão dos pecados (At 10:43), para redenção (Rm 3:24), justificação (At 13:39) e regeneração (Jo 3:6), a fim de ter a vida eterna (Jo 3:36), tornar-se filho de Deus (Jo1:12) e membro de Cristo (1 Co 12:27). Essa é a nossa salvação por Deus, por meio da fé (Ef 2:4- 9).
Com respeito à Igreja
A igreja, composta de todos os genuínos crentes em Cristo, como o Corpo de Cristo (Ef 1:22-23; Cl 1:24), é universalmente uma só (Ef 4:4); e a igreja numa cidade, como a expressão do Corpo de Cristo, é localmente uma - uma cidade, uma igreja (Ap 1:11).
A PECULIARIDADE DA VIDA DA IGREJA
Esses são os seis itens principais da fé cristã adequada. Todos os verdadeiros cristãos não têm qualquer controvérsia acerca desses itens. Alguns podem discordar do item "uma cidade, uma igreja", mas, como cristãos corretos, devemos crer que a igreja é uma só tanto universalmente como em cada cidade. Como o Corpo de Cristo, a igreja é universalmente uma; como a expressão do Corpo de Cristo, a igreja é uma em cada cidade. Isto não quer dizer, entretanto, que um verdadeiro crente em Cristo que não concorda com "uma cidade, uma igreja" não seja salvo. Ele
ainda é salvo, porém algo está faltando, não para a salvação, mas para a vida adequada da igreja.
A fé é a peculiaridade da vida da igreja. Isso é algo muito específico, muito peculiar. Com respeito a esses tópicos da nossa fé cristã, não deve haver discussão. Se formos lutar por algo, teremos de lutar por isso. Não há necessidade de lutar por outras coisas. Temos de combater o bom combate de tal fé (1 Tm 6:12). Temos de contender por tal fé (Jd 3). Temos de ensinar e pregar tal fé.
OS VENTOS DE DOUTRINA
Quando Paulo, então chamado Saulo, perseguia a igreja, ele tentava destruir essa fé. Entretanto, o Senhor o capturou e ele, então, tornou-se pregador da fé que antes destruía (Gl 1:23). Nossa luta
deve ser por essa fé. Temos de diferenciar essa fé de outros tipos de doutrina. Efésios 4:13 diz: "Até que todos cheguemos à unidade da fé" e, então, no versículo 14, encontramos os ventos de doutrina. Nesses dois versículos há fé e há doutrina. Guardar o sábado e a circuncisão são doutrinas. Ensinamentos sobre o véu é um tipo de doutrina; lavar os pés é outro; aspersão ou imersão é outro. Há também o comer e beber de Cristo, o orar-ler, o falar em línguas e a cura divina, assim como outros tipos de doutrinas e práticas. Não devemos pensar que essas doutrinas ou práticas estão incluídas na peculiaridade da vida da igreja.
A que horas devemos ter a mesa do Senhor: pela manhã ou à noite? Isso é outro tipo de doutrina. Quantas vezes devemos ter a mesa do Senhor: uma vez por semana ou todos os dias? Isso
também é um tipo de doutrina. Devemos usar pão levedado ou pão sem fermento? Isso é outro tipo de doutrina. Quando uma pessoa ora, deve fechar os olhos ou levantá-los para o céu? Isso é
também um tipo de doutrina. Tudo isso são doutrinas e dão margem a discussões.
DIVIDIDOS POR DOUTRINAS
Nos últimos cinco séculos, desde a época de Martinho Lutero e da Reforma, os cristãos têm sido divididos por todo tipo de doutrinas. As divisões são resultantes, quase que totalmente, da ênfase exagerada às doutrinas. John Nelson Darby, por exemplo, tomou a iniciativa em dizer que todos os dons miraculosos ou sobrenaturais,dispensacionalmente tiveram fim, mas os pentecostais e carismáticos de hoje creem que esses dons ainda permanecem. Mesmo entre eles há crenças diferentes. Uns dizem que uma pessoa pode ser regenerada, mas jamais pode ser batizada no Espírito Santo sem falar em línguas.
Outros dizem até que uma pessoa não pode ser regenerada sem falar em línguas. Sobre a questão da cura divina, há várias escolas de opinião. Alguns, como George Müller, creem na cura divina, não segundo os dons, mas segundo a graça. Em sua autobiografia, ele nos diz que era muito fraco quando jovem, entretanto, viveu noventa e três anos. Ele experimentou a cura do Senhor pela graça, mas os carismáticos ou pentecostais dizem que a cura é pelos dons.
Até mesmo a questão de em que nome batizar as pessoas tem escolas de opinião. Alguns dizem que devemos batizar as pessoas no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; outros dizem que é
em nome do Senhor Jesus Cristo.Com respeito ao arrebatamento, há diversas escolas de ensinamento, tais como o arrebatamento pré-tribulação, pós-tribulação e arrebatamento parcial. Isso são doutrinas; nenhuma delas é um item da fé.
Tem existido ensinamentos e mais ensinamentos e todos os cristãos foram divididos pelas diferentes doutrinas e ainda o são. Entre os Irmãos Unidos, hoje, há centenas de divisões. Eles começaram a partir de 1828 ou 1829 e, por volta de 1919, segundo um relato que lemos naquela época, as estatísticas mostravam que, naqueles noventa anos, os Irmãos Unidos foram divididos
em cento e cinqüenta divisões, principalmente por causa de tantos ensinamentos diferentes.
IMPORTAR-SE APENAS COM A FÉ
Todos os cristãos são iguais na fé, mas podemos ser muitíssimo diferentes nas doutrinas. Você crê que todos seremos iguais nas doutrinas? Quando isso ocorrerá? Dificilmente posso acreditar que dois de nós venham a ser algum dia absolutamente iguais em doutrina. Então, que devemos enfatizar? Devemos enfatizar as doutrinas? Nesse caso, tornar-nos-emos facciosos e, por fim, seremos divididos.
Não devemos enfatizar as doutrinas, mas somente a nossa fé cristã. Podemos enfatizá-la porque contra ela não há argumento. Na fé não temos problemas. Somos todos iguais.
A NECESSIDADE DE CRESCER
Entretanto, todos fomos infectados, influenciados, estragados, distraídos e até divididos por todo tipo de doutrina. Portanto, precisamos crescer e, à medida que crescermos, chegaremos à
unidade da fé (Ef 4: 13). Quanto mais crescemos, menos enfatizamos as doutrinas. Todas as doutrinas são como brinquedos. Quanto mais infantis formos, mais gostaremos de brincar com os brinquedos da doutrina. Um varão crescido, principalmente um avô, não tem interesse em brinquedos. Quanto mais maduros somos, menos brinquedos temos. Assim, todos precisamos crescer, até que cheguemos à unidade única da fé.
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