A partir de 1737, com apenas 23
anos, George Whitefield (1714-1770) assustou a Inglaterra com uma série de
sermões que transformaram a sociedade britânica. Atacado pelo clero, pela
imprensa e até por uma multidão de insatisfeitos, Whitefield se tomou o
pregador mais popular naquela época. Entretanto, antes disso, ele passou por
situações muito semelhantes as que experimentam alguns missionários nos dias
atuais.
Repetidas vezes, ele teve de
pregar fora dos portões do templo pelo simples fato de sua pregação
apaixonada ser muito distante da usual formalidade dos pastores daquele
tempo. Ele chegou a ser agredido em algumas ocasiões. Na cidade de
Basingstoke, por exemplo, foi espancado a pauladas. Em Moorfield, destruíram
a mesa que lhe servia de púlpito. Em Exeter, durante uma pregação para dez
mil pessoas, Whitefield foi apedrejado. "Pregava para as multidões ao ar
livre, porque as igrejas na Inglaterra do século 18 não o recebiam".
Nada, porém, podia conter
aquela mensagem. A influência de Whitefield cresceu de tal forma que ele era
capaz de manter atentas 20 mil pessoas, encantadas com seus sermões, por mais
de duas horas. Durante 34 anos, a voz de George Whitefield ressoou na
Inglaterra e América do Norte. Whitefield era um calvinista firme, de origem
metodista. Era um evangelista agressivo que cruzou o Oceano Atlântico 13
vezes a fim de proclamar a salvação também na América. Ele se tornou o
pregador favorito dos mineiros de carvão e dos valentões de Londres porque ia
até eles em vez de esperá-los dentro das igrejas.
Histórico familiar —
Whitefield, um pregador fascinante, contrariou todas as teorias
"deterministas". Nasceu em uma taberna em que eram servidas bebidas
alcoólicas e morreu pregando a Palavra de Deus como um dos mais sérios servos
de Deus de toda a História. Seu pai faleceu quando ele ainda era um bebê. Sua
mãe se casou novamente, mas a nova união não melhorou as coisas para o
pequeno George, que continuava a limpar os quartos, lavar roupas e servir
bebidas aos hóspedes da pensão de sua mãe.
No entanto, apesar de sua
família não ser convertida ao Evangelho, Whitefield gostava de ler a Bíblia.
Alguns historiadores afirmam que ele foi orientado a manter contato com a
Escritura Sagrada por alguns clientes que passavam pela estalagem. Outros, no
entanto, preferem atribuir o interesse de George pela Palavra a um milagre de
Deus. O fato é que, desde cedo, ele demonstrou talento para a oratória.
Alguns anos mais tarde, quando estudava no Pembroke College, em Oxford,
Whitefield reunia com frequência pequenos grupos de colegas em seus aposentos
com o propósito de orar e estudar a Bíblia. Conta-se que não eram raras as
ocasiões em que os presentes recebiam o batismo com o Espírito Santo.
Os biógrafos asseveram que ele
dividia seu tempo livre de tal forma a ficar, aproximadamente, oito horas por
dia em devoção a Deus. Na época, ainda jovem, trabalhava como garçom em bares
noturnos como meio de sobrevivência. Naquele exato período de sua vida, o
futuro pregador conheceu John Wesley e foi, então, que começaram a jejuar e a
estudar a Bíblia. Whitefield compilou alguns dos conceitos mais famosos de
Wesley, dentre eles: A verdadeira religião é a união da alma com Deus e a
formação de Cristo em nós.
Ainda muito cedo, Whitefield
teve de voltar para a casa de sua mãe para poder recuperar-se de um problema
respiratório que o assolou em todo o seu ministério.
Para não perder o objetivo da
obra de Deus, entretanto, George Whitefield montou uma pequena classe de
estudos Bíblicos e começou a visitar os pobres e doentes da região. Os
membros de sua igreja não ficaram indiferentes aquele talento e, embora fosse
norma não consagrar ao pastorado alguém com menos de 23 anos, Whitefield
tornou-se ministro do Evangelho aos 21 anos, por insistência daquela igreja.
Mesmo antes de cumprir sua determinação pessoal, de escrever cem sermões para,
mais tarde, apresentá-los à igreja e pleitear sua ordenação, Whitefied
aceitou o desafio.
Suas primeiras pregações como
ministro do Evangelho foram tão intensas, que algumas pessoas se assustaram.
Os anciões da igreja, no entanto, deram-lhe apoio e ele entendeu, naquele
gesto, uma lição que escrevera para a posteridade:
Desejo, todas as vezes que
subir ao púlpito, considerar essa oportunidade como a última que me é dada de
pregar; e a última dada ao povo para ouvir a Palavra de Deus. Curiosamente
ele, raramente, pregava sem chorar: Vós me censurais por que choro. Mas como
posso conter-me, quando não chorais por vós mesmos, apesar das vossas almas
mortais estarem à beira da destruição? Não sabeis se estais ouvindo o último
sermão, ou não, ou se jamais tereis outra oportunidade de chegar a Cristo,
admoestava.
Essa paixão irresistível pela
pregação da Palavra é a melhor explicação para alguns fenômenos, ou melhor,
milagres espirituais que acompanhariam a carreira ministerial de Whitefield.
Em 1750, por exemplo, ele conseguiu reunir dez mil pessoas, diariamente, nas
ruas de Londres durante 28 dias, em um evento que, hoje, chamaríamos de
cruzadas evangelísticas. Entretanto, a diferença é que ele pregava em uma
época em que não havia microfones ou quaisquer outros recursos tecnológicos
para ampliar o volume de sua voz. Jornais daquela época registraram que
Whitefield podia ser ouvido por mais de 1 km, apesar de seu corpo franzino e
de sua voz fraca, por causa dos problemas de saúde. Isso era um milagre de
Deus com certeza.
Em outra ocasião, pregando a
alguns marinheiros, Whitefield descreveu um navio no olho de um floração. O
sermão foi apresentado de maneira tão real, que, no momento em que o pregador
descrevia o barco afundando, foi interrompido pelo grito dos marinheiros
apavorados com o que consideraram a própria visão do inferno.
Whitefleld, ao contrário do que
muitos imaginavam, era um evangelista-missionário. Jamais quis abrir igrejas
para levar seus milhares de convertidos. Pelo contrário: ele os orientava a
procurarem igrejas locais. Isso porque, dizem seus biógrafos, sua missão
evangelística tomava-o de tal forma que não havia nele qualquer interesse na
abertura de templos ou em ter conforto. Nas 13 vezes em que realizou cruzadas
evangelísticas nos Estados Unidos, Whitefield viajou, a princípio, para
colaborar com o orfanato que abrira no estado da Geórgia. Ele adorava pregar
para os órfãos e, para muitos deles, Whitefield era a única referência
paterna.
Aos 65 anos de idade, já muito
doente, Whitefleld ministrou durante duas horas para uma multidão que o
esperava em Exeter, Inglaterra. Na mesma noite, partiu para a cidade de
Newburysport, a fim de hospedar-se na casa do pastor local. Durante a
madrugada, falou ainda com alguns colegas por cerca de 30 minutos e subiu as
escadas para o seu dormitório. Lá, morreu, pregando a Palavra de salvação até
o último minuto de vida ao seu companheiro de quarto.
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