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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

MINISTÉRIO DA PALAVRA: PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA ( 1 )




( mensagem ministrada pelo irmão Witness Lee em Taipé, Taiwan na década de 1950 e compõe o livo: Conhecendo a Bíblia)


Neste capítulo, precisamos ver alguns dos princípios de interpretação da Bíblia. Se quisermos estudar a Bíblia, temos de entendê-la. Para entendermos a Bíblia, precisamos interpretá-la. Sem interpretação nem explicação, naturalmente não teremos como entender a Bíblia. Sabemos que todas as coisas têm seus princípios próprios. Quanto mais valorizado e importante for um assunto, mais rigorosos serão os seus princípios e leis governantes. Se determinado assunto não tem qualquer significado ou importância, e pode ser conduzido de qualquer maneira, não há que se falar em leis, princípios ou regras. Mas, se um assunto é respeitável e ocupa um lugar significativo e de destaque, se é algo grandioso e nobre,
certamente existirão princípios e leis que governam esse assunto; não se pode encará-lo levianamente. A Bíblia é um item extremamente grandioso no universo. Além do nosso Senhor e Deus da glória, creio que o maior item no universo é a Bíblia que temos diante dos nossos olhos e em nossas mãos. Uma vez que a Bíblia é tão importante, precisamos da interpretação adequada, para que possamos estudá-la e entendê-la. Essa interpretação tem de ser regida por regras, leis e princípios definidos. Não podemos
interpretá-la ao nosso bel-prazer.


Agora que vimos como a Bíblia foi escrita, como ela foi traduzida para diversas línguas e posta em nossas mãos como um livro tão disponível, precisamos descobrir os princípios e leis governantes para a sua interpretação e estudo. Isso não apenas nos ajudará a entender a Bíblia, como também nos ajudará a evitar muitos erros.

Todas as regras são um tipo de proteção. Se um trem não tiver trilhos para correr, ele não apenas será incapaz de mover-se suavemente, como também não terá proteção. Quando há trilhos, o trem move-se sem trancos e tem uma proteção adequada. O mesmo ocorre com o estudo da Bíblia. Se alguém estuda e expõe a Bíblia de maneira cega e descuidada, o resultado será inconcebível e até
mesmo perigoso. Nossos pensamentos freqüentemente não têm limites. É muito perigoso a pessoa julgar segundo o que ela pensa e interpretar conforme concebe por meio dos sentidos. Se queremos
estudar adequadamente a Bíblia e entendê-la com precisão, é necessária uma interpretação restritiva. Se quisermos uma exposição restritiva da Bíblia, precisamos encontrar os princípios e leis de interpretação da Bíblia. Mostraremos, aqui, dez desses princípios.

O MAIS LITERAL POSSÍVEL

O primeiro princípio de interpretar e entender a Bíblia é: o mais literal possível. Temos de apegar-nos firmemente ao fato de que quando Deus inspirou homens para escrever a Bíblia, Ele usou
palavras que são totalmente compreensíveis ao homem. Quando tentamos entender a Bíblia hoje, temos de entender o pensamento de Deus, estrita e precisamente segundo a letra das palavras. Não
devemos pensar que, uma vez que a Bíblia foi inspirada por Deus, ela sempre transcende a linguagem humana, e, portanto, está aberta para interpretação espiritual. Essa é uma tese perigosa. Devemos interpretar a Bíblia segundo o significado literal das palavras. Não importa quão difícil ou descabida uma interpretação literal possa nos parecer, temos de aderir estritamente ao significado literal.

Mencionemos alguns exemplos. Um exemplo óbvio é a profecia do Antigo Testamento, em Isaías, a respeito do Senhor Jesus nascer de uma virgem. Hoje, o Senhor Jesus já nasceu de uma virgem.
Portanto, para nós não é surpresa quando lemos ou ouvimos essa palavra. Mas, na época de Isaías, quando os homens liam o que ele escrevera sobre uma virgem dar à luz um filho e chamá-lo de
Emanuel, não teriam eles tido dificuldades em sua mente? Uma pessoa certamente teria dificuldade em entender como uma virgem poderia estar grávida. Alguns poderiam ter-se voltado para uma
interpretação espiritual, sugerindo que a virgem pudesse significar algo mais que uma virgem de verdade. Mas quando essa profecia foi cumprida, ela foi cumprida literalmente. A virgem referia-se a
uma virgem de verdade.

Também, o livro de Zacarias, no Antigo Testamento, profetizou que o Senhor Jesus haveria de entrar pela última vez em Jerusalém montado em um jumentinho. Quando alguém lia isso, naquela época, poderia achar difícil entender, porque, para eles, esse a quem os outros proclamariam "Hosana", o Rei digno de louvor, o mais estimado de Israel, nunca poderia entrar em Jerusalém montado em um jumentinho. As pessoas achariam ilógico montar um jumentinho. Por essa razão, eles interpretariam espiritualmente essa profecia, de maneira que significasse algo diferente. Entretanto, quando a profecia foi cumprida, ela foi cumprida literalmente em todos os aspectos. A palavra era jumentinho, e de fato foi um jumentinho.

Quando lemos a Bíblia, por um lado, temos de receber inspirações espirituais, mas, por outro lado, não devemos alterar o significado literal a fim de combinar com uma interpretação espiritual.
Somente quando uma interpretação literal de uma profecia ou parábola leva a situações absurdas ou impróprias é que se pode interpretá-las espiritualmente. Mas são poucos esses casos na Bíblia. Deve-se considerar cuidadosamente se uma passagem deve ser interpretada literal ou espiritualmente. Há uma grande diferença nisso. Ouvi falar que alguns interpretam os gafanhotos em  Apocalipse como sendo os aviões de hoje, e a praga proveniente dos céus como sendo as bombas lançadas pelos aviões. Isso é ridículo. Devemos ser cuidadosos para não interpretar tão livremente a Bíblia. Se alguém quiser encontrar exemplos de interpretações esquisitas e irracionais, leia "Os Sinais dos Tempos", publicado pelos adventistas do sétimo dia. Ali, pode-se encontrar as interpretações mais irrestritas e absurdas. Não devemos interpretar a Bíblia dessa maneira. Devemos apegar-nos aos princípios e aderir, o máximo possível, ao significado literal. Somente quando a interpretação literal de algumas palavras, em algumas visões, profecias e parábolas torna-se muito absurda e tola é que se pode interpretá-las espiritualmente.

NÃO INTERPRETAR LITERAL E ESPIRITUALMENTE A MESMA SENTENÇA, VERSÍCULO OU SEÇAO

Não podemos interpretar uma sentença, versículo ou seção da Bíblia espiritualmente em sua primeira parte e literalmente a segunda parte. Tampouco devemos fazê-lo da maneira inversa. Se
uma passagem deve ser interpretada espiritualmente, deve sê-lo por completo. Igualmente, se uma passagem deve ser interpretada literalmente, deve sê-lo por completo. Por exemplo: o Senhor Jesus
disse em João 3 que, se a pessoa não nascer da água e do Espírito, ela não pode entrar no reino de Deus. Muitos expositores da Bíblia têm interpretado espiritualmente a água, nessa passagem, referindo-se à palavra de Deus. Entretanto, na frase seguinte, eles tomam literalmente o Espírito, referindo-se ao Espírito Santo. Esse tipo de interpretação é errado e contraria o princípio de interpretação da Bíblia. Se deve-se interpretar literalmente o Espírito na segunda sentença, deve-se, igualmente, interpretar literalmente a água na primeira sentença, e vice-versa. Como não se pode interpretar espiritualmente o Espírito, tampouco se pode interpretar espiritualmente a água nessa passagem, ela deve ser tomada literalmente.

Em Mateus, capítulo 3, João Batista disse: "Eu vos batizo em água, para arrependimento; mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu (...) Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. A Sua pá Ele a tem na mão, e limpará completamente a Sua eira; recolherá o Seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo inextinguível" (vs. 11-12). Alguns expositores da Bíblia interpretam o fogo, aqui, espiritualmente, como tribulações e provas. Alguns chegam até a interpretar como sendo o Espírito Santo queimando como fogo. Todos esses interpretaram espiritualmente a palavra fogo. Mas, neste versículo, a água mencionada por João é água de verdade, e o Espírito Santo é o Espírito Santo literalmente. Portanto, o fogo na última parte não deve ser interpretado espiritualmente, mas literalmente. Se a palavra fogo deve ser interpretada espiritualmente, então a água também tem de ser interpretada espiritualmente; o que é impossível de ser feito. Este é um princípio importante de interpretação da Bíblia: partes diferentes dentro de uma mesma passagem devem ser interpretadas
todas literalmente ou todas espiritualmente; não pode haver mistura.

UMA PORÇÃO NÃO É SUFICIENTE PARA REPRESENTAR TODA UMA VERDADE

Ao interpretar a Bíblia, temos de prestar atenção a mais uma coisa: uma porção da Palavra não é suficiente para representar a verdade completa. Em outras palavras: nenhuma verdade pode ser plenamente expressa em uma única porção da Palavra. Portanto, ao lermos e interpretarmos a Bíblia, devemos prestar atenção às palavras "também está escrito". Essa palavra é falada pelo Senhor Jesus em Mateus 4:7. Quando o Senhor foi tentado, o diabo citou as palavras do Salmo 91 para o Senhor, nas quais
Deus ordenaria aos Seus anjos que O sustentassem, para que Ele não tropeçasse em alguma pedra. O diabo argumentava que Ele podia atirar-se do pináculo do templo e não seria ferido, por haver tal promessa no Antigo Testamento. Quando o Senhor ouviu isso, Ele respondeu imediatamente: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus". Isso nos mostra que não podemos considerar apenas uma porção isolada da Bíblia. Em vez disso, devemos considerar duas, três ou mais porções da Palavra juntas. Se negligenciarmos o principio do "também está escrito", e aplicarmos as palavras da Bíblia de uma maneira isolada, facilmente seremos enganados pelas ciladas do diabo. Se o diabo não consegue impedir
a pessoa de seguir a Bíblia, ele a levará a tomar passagens isoladas da Bíblia. É claro que Satanás gostaria que não fizéssemos nada de acordo com a Bíblia. Mas, muitas vezes, ele sabe que isso é impossível. Todos aqueles que amam e temem o Senhor desejam andar de acordo com a Bíblia. O diabo não pode impedir-nos de seguirmos a Bíblia ou de andarmos de acordo com ela. Ele apenas pode usar outras maneiras, uma das quais é fazer com que sigamos a Bíblia de uma maneira isolada. Assim, somos levados ao extremo e esquecemos as palavras que dizem: "também está escrito".

A palavra "também" é uma palavra muito grande. Deveríamos desenhar um círculo ao seu redor. Isso nos mostra que quando seguimos a Bíblia, não devemos fazê-lo de maneira isolada. Temos de considerar ambos os lados, até mesmo todos os lados. Nenhuma porção isolada da Bíblia pode representar toda a verdade, da mesma maneira que nenhuma fachada isolada de uma casa pode representar completamente toda a casa. Nós próprios somos assim. Se alguém tira uma foto nossa por trás, não se pode ver nela
nenhum buraco na cabeça. Mas se nos tiram uma foto de frente, pode-se ver claramente sete buracos. Nenhum dos lados de um homem isoladamente pode representar a pessoa como um todo. O mesmo pode ser dito a respeito da Bíblia. Nenhuma porção isolada da Bíblia pode representar uma verdade completa, e temos de ser muito equilibrados em tudo. Portanto, temos de lembrar-nos do princípio "também está escrito".

A TOTALIDADE DOS VERSÍCULOS CONTÉM TODAS AS VERDADES

Um versículo isolado não pode representar uma verdade completa. Entretanto, todos os versículos da Bíblia contêm todas as verdades. Por um lado, para se entender uma verdade não se pode confiar em um único versículo, mas deve-se considerar muitos outros versículos. Por outro lado, ao se definir qualquer verdade, deve-se considerar todos os versículos. Cada versículo na Bíblia contém todas as verdades. Uma vez, um irmão disse que qualquer versículo da Bíblia exige toda a Bíblia para explicá-lo. Isso é muito correto. Se alguém quer entender Gênesis 1:1, ele tem de entender toda a Bíblia. Por um lado, Gênesis 1:1 não pode conter toda a verdade; por outro, Gênesis 1:1 inclui todas as verdades da Bíblia. Portanto, ao definirmos qualquer verdade, não podemos apoiar-nos unicamente em uma porção da Bíblia. Em vez disso, temos de depender de todas as outras palavras da Bíblia. No mesmo princípio, a explicação de um versículo qualquer não pode ser baseada unicamente em seu próprio contexto, mas deve basear-se em toda a Bíblia. A Segunda Epístola de Pedro 1:20 diz que nenhuma profecia das Escrituras é de particular interpretação (IBB-Rev.). O significado original desse versículo é que a profecia da Bíblia não deve ser interpretada segundo seu próprio contexto. Isso quer dizer que, para interpretar qualquer profecia, deve-se estudar todas as profecias na Bíblia e tomar decisões baseadas em todas as
profecias da Bíblia. Somente assim a interpretação será completa.

NÃO SACRIFICAR NENHUMA PORÇÃO DA PALAVRA

Ao se definir uma verdade, às vezes muitos versículos relacionados indicam um determinado significado, mas dois ou três deles não podem ser explicados dessa maneira. Não se pode dizer que, porque somente um ou dois versículos não podem ser explicados dessa maneira, pode-se, portanto, sacrificá-los e basear a exposição na maioria dos versículos. Se a pessoa faz dessa maneira, ela está sacrificando alguns versículos. Não podemos fazer assim. Uma vez que um ou dois versículos não concordem com determinada interpretação, temos de abandonar essa interpretação. Devemos respeitar todas as porções da Bíblia. Somente quando uma interpretação harmoniza-se com toda a Bíblia é que essa interpretação pode ser considerada confiável. Qualquer versículo que proíba certa interpretação da verdade não deve ser sacrificado. Em vez disso, essa determinada interpretação é que deve ser abandonada, e temos de esperar mais revelação da parte de Deus. Se estudarmos a Bíblia dessa maneira, não cairemos facilmente
em erro.

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