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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

MINISTÉRIO DA PALAVRA: PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA ( 2 )





( mensagem ministrada pelo irmão Witness Lee em Taipé, Taiwan na década de 1950 e compõe o livo: Conhecendo a Bíblia)

TODAS AS EXPRESSÕES APOSITIVAS SÃO IGUAIS

Há muitas expressões na Bíblia que estão em aposição 1 a outras. Todas essas expressões apositivas são equivalentes e não diferentes. Por exemplo: Mateus 5 fala de nove bem-aventuranças. Ali diz: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus", e "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus". Essas são expressões casadas, onde a primeira expressão combina com a segunda. Neste caso, em cada bem-aventurança, há, primeiramente, a condição para a bênção e, então, a própria bênção. Todas as expressões casadas são equivalentes. Se a primeira parte de uma expressão especifica uma condição, então todas as primeiras partes dessas expressões casadas também especificam condições. Se a segunda parte de uma expressão especifica uma bênção, então a segunda parte de todas
essas expressões também especificarão uma bênção. Este é outro princípio ou regra. 



Aposição = emprego de um substantivo, ou locução substantiva, como aposto.
Aposto = nome, ou expressão equivalente, que exerce a mesma função sintática de outro elemento a que se refere.

NÃO SER RESTRINGIDO PELO “PANO DE FUNDO” NEM IGNORÁ-LO

Ao interpretar a Bíblia, não se deve ser restringido pelo background, tampouco ignorá-lo. Por exemplo: no sermão que o Senhor fez no monte, são ditas muitas palavras de "pano de fundo" judaico. O Senhor diz: "Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma
coisa contra ti" (Mateus  5 :23). Essa oferta no altar é totalmente fundamentada no pano de fundo judaico. Se quiser entender o significado original dessa palavra, você não pode desconsiderar o "pano de fundo" daquela época. Os judeus apresentavam suas ofertas no altar com o propósito de aproximarem-se de Deus e terem comunhão com Ele. Se você tomar esse princípio, perceberá que as palavras do Senhor dizem respeito a um homem oferecendo algo diante de Deus e tendo comunhão com Ele. Portanto, não podemos negligenciar a questão do "pano de fundo", mas devemos procurar entendê-lo.

 Por outro lado, não devemos ser restringidos ao "pano de fundo". Não podemos ensinar as pessoas a levarem
ofertas ao altar, simplesmente porque o Senhor Jesus falou tal palavra. Se você for limitado pelo "pano de fundo", terá um grande problema. Portanto, temos de ver que não podemos negligenciar a questão do"pano de fundo"; se o fizermos, não entenderemos o significado exato da Bíblia. Por outro lado, precisamos ser cuidadosos para não sermos presos ao "pano de fundo", levando-nos ao erro.

ATENTAR PARA AS DIFERENÇAS NAS DISPENSAÇÕES

As palavras de Deus para o homem são divididas em dispensações. Algumas palavras foram faladas por Deus ao homem sob a dispensação da lei. Outras palavras foram faladas por Deus ao homem sob a dispensação da graça. Quando tentamos entender essas palavras, devemos discernir as diferentes dispensações. Não devemos aplicar à dispensação da graça, as palavras faladas na dispensação da lei. Esse é o engano dos adventistas do sétimo dia, quanto à questão de guardar o sábado. Guardar o sábado é um
mandamento que Deus deu ao homem na dispensação da lei. Quando chega-se à era da graça, é algo totalmente diferente. Mas os adventistas do sétimo dia apegam-se a Êxodo 20 e dizem que, uma vez que Deus falou claramente sobre o sábado, temos que guardá-lo hoje. É verdade que Deus falou sobre guardar
o sábado, mas isso é algo na dispensação da lei e não na dispensação da graça.

 Há outro exemplo. Em Salmos nos é dito que nossos filhos na carne são bênçãos de Deus. Lembre-se, por favor, que essa é uma palavra do Antigo Testamento. No Novo Testamento, isso já não é verdade. Não se pode encontrar nenhuma passagem no Novo Testamento que diga que os filhos na carne são bênçãos. Embora eu não possa dizer que os filhos na carne sejam agora maldições, ouso afirmar que eles são responsabilidades e lições. Hoje, na dispensação da graça, a verdadeira bênção são os filhos espirituais. 

No mesmo princípio, Deus prometeu ao Seu povo escolhido, no Antigo Testamento, que eles haveriam de prosperar e ampliar seu território sobre a terra. Mas no Novo Testamento, ocorre exatamente o oposto. Se você, hoje, citando palavras do Antigo Testamento, pregar para os irmãos e irmãs, dizendo: "Graças a Deus, Ele prometeu-nos que, se O temermos, Ele ampliará nosso território e todos seremos proprietários de grandes porções de terra", isso seria totalmente errado. Há tal promessa na Bíblia; todavia, essa promessa não está sob a graça, mas sob a lei. No Novo Testamento, Deus disse que devemos desistir de nossas terras e vendê-las para dar aos pobres. Isso é exatamente o oposto ao Antigo Testamento.

 Embora sejam todas palavras da Bíblia, e sejam todas inspiradas por Deus, não devemos tomar as palavras da antiga dispensação e aplicá-las à atual dispensação. Os católicos e muitos protestantes erram nesse ponto. Há muitas coisas no catolicismo que vêm do judaísmo do Antigo Testamento. Até mesmo a vestimenta dos sacerdotes e seus rituais de adoração são todos emprestados dos princípios do Antigo Testamento. É claro que essas coisas são mencionadas na Bíblia, mas elas não são para a presente dispensação. Ao expor e interpretar a Bíblia, não se pode dizer: "Isso não é palavra da Bíblia? Se é, devemos guardá-la". Não podemos falar dessa maneira. Temos de diferenciar as eras; ou seja, temos de saber claramente a que dispensação determinada palavra pertence. Se você não está em certa dispensação, então as palavras daquela dispensação nada têm a ver com você. Mais tarde, falaremos mais sobre as dispensações.

LEVAR EM CONTA A DIFERENÇA DAS PESSOAS PARA QUEM A PALAVRA É DIRIGIDA

Ao expor a Bíblia, deve-se levar em conta as pessoas para quem determinada palavra é dirigida. Algumas palavras são dirigi das aos judeus, e não estão relacionadas aos gentios ou à igreja. Algumas palavras são ditas aos gentios e nada têm a ver com os judeus ou com a igreja. Algumas palavras são faladas à igreja e não têm nada a ver com os judeus ou os gentios.

 A Primeira Epístola aos Coríntios 10:32 diz: "Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tão pouco para a igreja de Deus". Na Bíblia, há, pelo menos, três tipos de pessoas para quem Deus dirige Suas palavras: os judeus, os gentios e a igreja. No Antigo Testamento, a maioria das palavras foram faladas para os judeus. No Novo Testamento, há algumas palavras faladas à igreja. Paralelamente, quer no Novo ou Antigo Testamento, há algumas palavras faladas aos gentios. Devemos diferenciá-las claramente quando as lermos e devemos descobrir para quem elas foram faladas. Temos de diferenciar as diversas pessoas a quem as palavras são dirigidas, se para os judeus, os gentios ou a igreja.
Somente depois de identificar a pessoa a quem é dirigida a palavra é que podemos fazer o julgamento adequado.

 Por exemplo: alguns estudiosos da Bíblia têm discutido grandemente a respeito de para quem foi escrito o livro de Mateus. Há muitos expositores que afirmam que Mateus foi escrito para os judeus e não para a igreja. Eles se referem ao"pano de fundo" judaico das palavras em Mateus, dizendo que o Senhor Jesus se referia claramente a levar as ofertas ao altar. Para eles, isso é uma prova de que essas palavras são para os judeus. O Senhor Jesus falou claramente sobre o julgamento do sinédrio. O sinédrio era uma organização judaica. Eles também se referem ao capítulo 24 de Mateus que faz menção ao abominável da desolação estando no santo lugar. Para eles, o santo lugar pertence aos judeus, de maneira inequívoca. O Senhor também disse que quando chegar a grande tribulação, as pessoas devem orar para que sua fuga não ocorra no sábado. Será que a igreja deveria guardar o sábado? Já que as pessoas a quem essa palavra é dirigida guardam o sábado, não serão eles judeus? Esses estudiosos mostram muitos exemplos como esses para provar que o livro de Mateus é dirigido aos judeus. Se assim fosse, isso seria algo muito sério, porque todo o livro de Mateus não mais seria nossa herança.

Após termos lido cuidadosamente todo o livro de Mateus, temos de admitir que as palavras em Mateus 5 certamente têm um "pano de fundo" judaico, mas elas não são dirigidas aos judeus; são dirigidas ao povo do reino dos céus. O povo do reino inclui não somente os salvos dentre os judeus, mas também inclui os convertidos dentre os gentios. O povo do reino é a igreja. Pelo fato de haver entre o povo do reino pessoas que anteriormente tinham estado no judaísmo, e que tinham "pano de fundo"  judaico, o Senhor Jesus tinha de usar essas coisas relacionadas àquele "pano de fundo" , quando fez seu sermão na montanha. Há muitas discussões sobre os capítulos 24 e 25 de Mateus. Se ler cuidadosamente, você descobrirá que uma porção foi dirigi da aos judeus, uma porção foi dirigida à igreja e uma porção foi dirigida aos gentios. No capítulo 24, os versículos 1 a 30 são dirigidos aos judeus, os versículos 32 ao 30 do capítulo 25 são dirigidos à igreja. O versículo 31 até o fim desse capítulo é dirigido aos gentios. Ao estudarmos a Bíblia, antes de tomarmos uma decisão de interpretação, temos, primeiramente, de definir a pessoa a quem a palavra é dirigida. Somente então é que podemos entender e interpretar as palavras com precisão.

AS PESSOAS, EVENTOS E OBJETOS DO ANTIGO 
TESTAMENTO QUE NÃO SÃO CLARAMENTE
APRESENTADAS COMO TIPOS, NÃO DEVEM SER TRATADAS COMO TIPOS, MAS COMO ILUSTRAÇÕES

Sabemos que há muitos tipos no Antigo Testamento. Alguns deles são simplesmente pessoas individualmente, tais como Isaque, que tipificava o Senhor Jesus como o filho herdeiro, e Rebeca, que
tipificava a noiva ganha por Cristo - a igreja. Alguns tipos são eventos, tais como a páscoa dos israelitas que representa a nossa salvação diante de Deus quando recebemos o Cristo imolado como nosso Salvador. Outro exemplo é o êxodo do Egito pelos filhos de Israel, que tipifica nossa saída do mundo. Há também alguns tipos que são objetos, como o cordeiro tipificando Cristo e a serpente de bronze, também tipificando Cristo.

 No Antigo Testamento, muitas pessoas, eventos e objetos são tipos, mas não depende de nós decidir se eles são ou não tipos. Temos de descobrir evidências claras no Novo Testamento. Se não há nenhuma menção do objeto, evento ou pessoa no Novo Testamento, não devemos supor precipitadamente que é um tipo. No máximo, podemos apenas tomar emprestado esse objeto, pessoa ou evento como ilustração e usá-lo para explicar as verdades no Novo Testamento. Dizer que algo é um tipo significa dizer que isso é muito mais que uma ilustração.

Aqui, apenas apresentamos e mostramos resumidamente esses dez princípios de interpretação da Bíblia. Esses princípios evoluíram gradualmente a partir de centenas ou milhares de anos de experiência no estudo da Bíblia. Eles são como a nata do leite e o mel das abelhas e são muito preciosos. Espero que todos possamos lembrar-nos deles claramente. Tudo isso é para nossa ajuda e restrição. Espero que, de hoje em diante, todos os irmãos e irmãs apliquem esses princípios em seu estudo da Bíblia. Se os aplicarmos, encontraremos novo significado na Bíblia e teremos um entendimento melhor, mais preciso e completo.

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